sexta-feira, 29 de março de 2013

Adolescência e Diabetes

Parece haver uma concordância no que diz respeito à instabilidade do controle do diabetes na adolescência, explicada por observações muito difundidas de que os transtornos emocionais podem agravar a dificuldade do controle e do tratamento nesta fase do desenvolvimento humano. Ocorrem flutuações, amplas e rápidas na taxa de glicose no sangue por diversos motivos, que podem adquirir proporções, ainda maiores, na adolescência — período caracterizado por conflitos relacionados a alterações biopsicossociais, ou seja, alterações corporais com o aparecimento dos caracteres sexuais secundários, nas quais o adolescente perde a identidade de criança e se vê obrigado a buscar uma nova imposta sócio-culturalmente. A situação conflituosa do jovem começa com as mudanças corporais: alteração no timbre de voz, aparecimento de pêlos, desenvolvimento dos seios, definição do papel na procriação, concomitantemente, às mudanças psicológicas. O adolescente sente que deve planejar sua vida, controlar as mudanças, adaptar o mundo externo às suas necessidades. Ao mesmo tempo ele sente-se ameaçado e inseguro. Sua hostilidade frente aos pais e ao mundo em geral se manifesta na sua desconfiança, na idéia de não ser compreendido, na rejeição à sua realidade e ao tratamento do diabetes. Não apenas o adolescente que sofre com esse processo, os pais também experimentam este conflito, vivem o luto pelos filhos, luto pela perda do corpo pequeno do filho, pela sua identidade de criança e pela relação de dependência infantil. Com a possibilidade de renovação, através de contestações e questionamentos, o adolescente arrasta as pessoas à sua volta rumo ao seu processo de libertação, atingindo aqueles que, até agora, representavam seus limites. Sob o clima de excessivo controle ou demasiada liberdade, resultado da inadequada resolução dos próprios conflitos emocionais com os pais, insinua-se uma atmosfera de franca rivalidade. Faz-se necessário que haja, por parte dos pais e da equipe multiprofissional que o assiste, conhecer e compreender a fase que envolve a adolescência — suas características e o quanto estão envolvidos por esta fase —, já que estar diante de um adolescente e experimentar sua adolescência os remetem à própria e, conseqüentemente, aos conflitos que não foram resolvidos naquela época. Os pais precisam ter o conhecimento da oscilação entre a dependência e independência experimentada pelo adolescente nesse período, sendo necessária uma atitude de desprendimento em relação ao filho, concedendo-lhe uma liberdade com limites, que implica em cuidados, cautela, observação, contato afetivo permanente e diálogo, para que seja seguida gradativamente a evolução das necessidades e mudanças, tanto do adolescente quanto dos pais. Apoio mútuo na relação pais e filhos fomenta, para ambas as partes, segurança e aceitação no que diz respeito ao diabetes e seu tratamento, além de desempenhar papel significativo no processo de independência e responsabilidade por parte do jovem na manutenção de um adequado controle do diabetes. Na busca da identidade, o jovem recorre a alguns comportamentos e sentimentos para conseguir lidar com esta situação conflituosa: isolamento, necessidade de fantasiar, crises religiosas e políticas, mudanças rápidas de humor e busca a uniformidade. A busca pela uniformidade justifica a procura pelo convívio grupal, ao qual o jovem se vê tão inclinado. O grupo proporciona ao adolescente segurança e estima pessoal. Há um processo de superidentificação, já que o jovem pode transferir para o grupo parte da dependência que na infância era mantida com a estrutura familiar. A participação do adolescente portador de diabetes em grupos educativos, ou de convivência, será de fundamental importância para a aceitação do diabetes. Além da aquisição de conhecimentos teóricos e práticos acerca do diabetes e seu tratamento, o grupo propicia a troca de experiências individuais entre os membros que vão internalizando diferentes formas de pensar e sentir. O jovem começa a adquirir capacidade para assumir novos papéis e abandona outros que eram inadequados. Passa a ter consciência da própria identidade num nível real, o que significa aceitar e adaptar-se gradativamente ao diabetes e ao mundo Rosana ManchonRosana Manchon Psicóloga Clinica com experiência de 23 anos em Diabetes. Membro do Conselho Consultivo da ADJ - Associação de Diabetes Juvenil. Pós-Graduação em Psicologia Aplicada à Nutrição. Especialização em atendimento ao adolescente. Quinta-feira, 28 de Março de 2013 Fonte : www.portaldiabetes.com.br

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